Resultado de imagem para george orwell jornalismo
Uma casa sem livros é como um corpo sem alma., Cícero

Resultado de imagem para jards macalé
Resultado de imagem para gif animated sports
Resultado de imagem para surrealismo vladimir kush SALVADOR DALI
Resultado de imagem para contracultura
Resultado de imagem para surrealismo salvador dali
Resultado de imagem para feliz ano velho livro
Resultado de imagem para THE END

Resultado de imagem para RATO GUITARRA

Resultado de imagem para gif animado livro aberto

Resultado de imagem para chaplinResultado de imagem para chaplin


domingo, 26 de junho de 2016

Uma preciosidade literária por 1 Real

Todos nós que gostamos de uma boa leitura , no meu caso particularmente , vez ou outra adquiro livros em sebos ... o mais barato que eu comprei custou me 1 Real - trata se de "Martim Cererê".  Falando do valor pago pelo livro - 1 Real , penso que , mesmo sendo livro de sebo .. 1 Real é um valor irrisório demais para uma obra de tal importância para a construção de nossa literatura modernista.


Definitivamente eu sou um pouco suspeito pra resenhar este livro, embora após uma primeira e superficial lida . Martim Cererê é o tipo de livro que encanta, é o tipo de livro que você, de início, faz pouco caso, mas, ao terminar, exclama: As pessoas precisam ler isto! Na verdade é um livro "verde e amarelo" - bem Brasil.
 Não há outra melhor palavra para definir essa obra do que genial. Em síntese, basicamente a estória retrata as origens do Brasil desde seus primórdios, antes de seu “achamento”, passando pelo processo de interiorização do território e seu desenvolvimento. Mas e a peculiaridade? Está no fato de Cassiano Ricardo ter criado uma riquíssima mitologia pra fazer este percurso. 

Criaturas fantásticas, gigantes, lendas brasileiras. Está tudo lá dentro, e entoada numa poesia modernista que salta aos olhos, tamanho o poder. Muitas pessoas poderão torcer o nariz para o fato de eu ter dito que é escrito em poesia. Sabe-se que a poesia, embora legitimamente digna de apreciação, não vem lá nestas últimas décadas sendo muito valorizada pelos leitores: eu mesmo já carreguei este preconceito dentro do mim. 

Preciso confessar, todavia, que muito do encanto desta obra se perderia se escrita de outra maneira. Colocarei um trecho aqui pra exemplificar o que eu quero dizer: 

  LADAINHA 
 Por se tratar de uma ilha deram-lhe o nome de [Ilha de Vera Cruz. 

 Ilha cheia de graça Ilha cheia de pássaros Ilha cheia de luz. 

 Ilha verde onde havia mulheres morenas e nuas anhangás a sonhar com histórias de luas e cantos bárbaros de pajés em poracés [batendo os pés. 

 Depois mudaram-lhe o nome pra Terra de Santa Cruz. Terra cheia de graça Terra cheia de pássaros Terra cheia de luz. 

 A grande Terra girassol onde havia guerreiros de [tanga. e onças ruivas deitadas à sombra das árvores [mosqueadas de sol. 

 Mas como houvesse, em abundância, Certa madeira cor de sangue cor de brasa e como o fogo da manhã selvagem fosse um brasido no carvão noturno da paisagem, e como a Terra fosse de árvores vermelhas e se houvesse mostrado assaz gentil, deram-lhe o nome Brasil. 

 Brasil cheio de graça Brasil cheio de pássaros Brasil cheio de luz.


VIDEO :

 Aos que acharem estranha a pontuação e creditarem em minha digitação a origem dos “erros”, enganam-se. Cassiano Ricardo faz isso para transmitir o tom que lhe achava mais conveniente. E preciso concordar com ele. Esta, sem dúvida, é uma grande parte, mas há melhores ainda. Selecionei está por ser uma passagem isolada e que não precisa de contextualização do enredo para a compreensão. Qualquer um com um básico estudo de História do Brasil vai saber do que se trata. Pra saber o grau de complexidade desta poesia, e o quanto de informação há nela, basta atentar ao período que Cassiano Ricardo se dedicou à escrita. Originalmente, Martim Cererê foi lançado em 1928. Com tenho uma certa preferência por livros de capa dura, comprei minha edição no sebo: edição esta de 1932. Meu grupo (lembrando que comprei para um trabalho de faculdade) comprou a mais recente, nas livrarias. Durante uma leitura coletiva, acabei por descobrir que os textos estavam diferentes na maioria das passagens. Fiquei espantado ao descobrir que Cassiano Ricardo vinha lançando desde 1928 diversas edições reescritas de Martin Cererê, tamanho seu perfeccionismo. Foram ao todo 12 edições lançadas e reescritas até a versão final. Portanto, se alguém se interessar em ler, caso não queria comprar na livraria, e opte pelo sebo, não compre edições que antecedam a década de 1970. Acho que encerro por aqui fazendo algumas considerações finais. 

O livro foi escrito sob um nacionalismo tão exacerbado que é impossível ler e não desenvolver um patriotismo quase ufanista. Cassiano Ricardo, que fez parte da Academia Brasileira de Letras, sem dúvida, é um dos maiores poetas brasileiros (e me deixa muito triste o fato de ser pouco conhecido). Por último, considero este livro de leitura fundamental, e recomendo infinitamente (para amantes e não amantes de poesia). E uma recomendação especial: digo que não é uma leitura fácil, e muitos, acomodados pelas leituras “mastigadas” de hoje, sentir-se-ão tentados a abandonar. Aos que persistirem, caso tenha motivado aqui alguém a ler (o que me deixaria infinitamente feliz), aconselho a andar com um lápis junto ao livro. 

Cada detalhe tem muito de conhecimento ocultado por simbologia, o que torna a leitura quase uma brincadeira de enigma. Atente aos nomes dos personagens, eles dão muitas dicas. Encerro com a melhor definição que se poderiam fazer sobre a obra, escrita por Guilherme de Almeida: “O livro da Gênese Verde do nosso verdadeiro Antigo Testamento.”

Nenhum comentário:

Postar um comentário