Emblemático e complexo assim defino essa "obra prima" da literatura nacional , obra povoada de símbolos onde o personagem que dá nome ao livro , Macunaíma nasce e já manifesta sua principal característica: a preguiça.
O herói vive às margens do mítico rio Uraricoera com sua mãe e seus irmãos, Maanape e Jiguê, numa tribo amazônica. Após a morte da mãe, os três irmãos partem em busca de aventuras. Macunaíma encontra Ci, Mãe do Mato, rainha das Icamiabas. Depois de dominá-la, com a ajuda dos irmãos, faz dela sua mulher, tonando-se assim imperador do Mato Virgem.
O herói tem um filho com Ci e esse morre, ela morre também e é transformada em estrela. Antes de morrer dá a Macunaíma um amuleto, a muiraquitã (pedra verde em forma de sáurio), que ele perde e que vai parar nas mãos do mascate peruano Venceslau Pietro Pietra, o gigante Piaimã, comedor de gente.
Como o gigante mora em São Paulo, Macunaíma e seus irmãos vão para lá, na tentativa de recuperar a muiraquitã.
Após falhar com o plano de se vestir de francesa para seduzir o gigante e recuperar a pedra, Macunaíma foge para o Rio de janeiro. Lá encontra Vei, a deusa sol, e promete casamento a uma de suas filhas, mas namora uma portuguesa e enfurece a deusa. Depois de muitas aventuras por todo o Brasil na tentativa de reaver a sua pedra, o herói a resgata e regressa para a sua tribo.
Ao fim da narrativa, vem a vingança de Vei: ela manda um forte calor, que estimula a sensualidade do herói e o lança nos braços de uma uiara traiçoeira, que o mutila e faz com que ele perca de novo – dessa vez irremediavelmente – a muiraquitã. Cansado de tudo, Macunaíma vai para o céu transformado na Constelação da Ursa Maior.
Sobre o autor
Mário de Andrade foi a figura central do movimento de vanguarda de São Paulo e figura-chave do movimento modernista que culminou na Semana de Arte Moderna de 1922. O escritor foi um dos integrantes do “Grupo dos Cinco”, que deu início ao modernismo no Brasil, formado também por Oswald de Andrade, Anita Malfatti, Tarsila do Amaral e Menotti Del Picchia.
Importância do livro
Mário de Andrade inaugura uma nova organização da linguagem literária. Utiliza provérbios do povo brasileiro e aproxima a língua escrita ao modo de falar, apresentando, assim, uma crítica à língua culta prestigiada no Brasil. A obra apresenta humor e criatividade, o que faz com que se torne afinada com a literatura de vanguardista da época. O livro possui estrutura inovadora, não seguindo uma ordem cronológica e espacial. Valoriza a cultura brasileira ao mesmo tempo em que sobrepõe a esta traços do Dadaísmo, Futurismo, Expressionismo e Surrealismo.
Período histórico
Um dos romances mais importantes do modernismo brasileiro, “Macunaíma” foi lançado em 1928. O livro busca uma valorização da cultura nacional.
ANÁLISE
A partir dos temas folclóricos e mitológicos, Mário de Andrade cria uma nova linguagem literária. Não apenas pelo tema, mas também com o uso de provérbios e tentando aproximar-se o máximo possível da língua oral. O autor chega a representar uma "gozação" de Macunaíma à forma culta de falar dizendo que o povo "fala numa língua e escreve noutra", na "Carta pras Icamiabas".
A obra tem um aspecto nacionalista, mas aponta também para os “defeitos” do país. Consegue seguir a tendência literária mundial, mas imprime um tom nacional e originário. Com isso, “Macunaíma” torna-se a melhor representação das propostas do Movimento da Antropofagia (1928), iniciado por Oswald de Andrade, que buscava equiparar a cultura brasileira às outras culturas de prestígio. O Movimento Antropofágico tinha como pretensão aproveitar as qualidades de outras culturas, mas transformá-las em algo verdadeiramente nacional, por isso a metáfora de “comer” ou “devorar” o que vem de fora.
A descentralização da cultura é um dos objetivos do Modernismo e pode ser percebida na obra de Andrade. O autor cumpre com tal corrente ao tratar do nacionalismo em torno do verde-amarelismo, buscando os motivos indígenas, folclóricos, nativos e americanos, contra a inspiração nos temas europeus. Macunaíma também apresenta a “descentralização da cultura” na língua, ilustrando "o vocabulário regional de todos os pontos do Brasil" com suas frases feitas e provérbios de propriedade coletiva. Um dos principais valores do livro é exatamente essa mistura linguística.
Para escrever o livro, foi preciso que o autor pesquisasse sobre as lendas e mitos indígenas, pois está presente na obra a linguagem popular e oral de várias regiões do país. Por isso, Mario de Andrade o chama de rapsódia. E a partir desta descrição dos mitos presentes no imaginário popular, Mário também inventa, de maneira irônica, vários mitos da modernidade. O personagem “Macunaíma” serve como alegoria para sintetizar o caráter brasileiro.
Desta forma, podemos reconhecer na obra uma crítica e uma reflexão sobre o que seria o povo brasileiro: sem um caráter definido, vivendo em um país grande como o corpo de Macunaíma, mas imaturo, característica que é simbolizada pela cabeça pequena do herói.
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