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sábado, 1 de outubro de 2016

Darwin no Brasil - Encanto com a natureza e choque com a escravidão


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Ulisses Capozzoli
Charles Darwin, em quem os críticos religiosos enxergaram um deturpador das revelações bíblicas, foi interpretado como o homem que verdadeiramente abriu as páginas do livro da criação, como sugere esta ilustração em bico de pena. Em 27 de dezembro de 1831, depois de ser deslocado duas ou três vezes por ventos contrários, o HMS Beagle, um brigue com 10 canhões sob o comando do capitão Fitz-Roy deixou a localidade de Davenport, no sudoeste da Inglaterra, para uma viagem de quatro anos e nove meses ao redor do mundo. Um personagem, que a história tornaria o passageiro mais importante a bordo do Beagle, tinha pouco mais de 22 anos e havia sofrido alguns reveses profissionais antes de se envolver com a história natural. Charles Robert Darwin (Shrewsbury, 12 de fevereiro de 1809 – Downe, Kent, 19 de abril de 1882) cujo nome seria sinônimo de evolucionismo, ainda era um criacionista despreocupado quando o Atlântico se abriu à sua frente para a viagem que reformularia não apenas suas convicções pessoais, mas mudaria profundamente toda a história da ciência. 

 Darwin fez uma parada no arquipélago de Cabo Verde, onde registrou minuciosamente suas observações e se impressionou com o arquipélago de São Pedro e São Paulo, antes de passar por Fernando de Noronha. Mas foi no Rio de Janeiro, especialmente por uma incursão de alguns dias pelo interior, que pôde sentir a diversidade de Natureza que deveria conhecer antes de, inteiramente conta a vontade, tornar-se um evolucionista. 

 Em Viagens de um naturalista ao redor do mundo (Voyage of a naturalist round the world), onde faz um detalhado registro de sua longa exploração, Darwin dedica menos de dez páginas a Salvador, na Bahia, aonde chegou em 29 de fevereiro de 1833, para uma estada curta, mas já fascinado pela exuberância da natureza tropical. Em 4 de abril o Beagle atracou no Rio de Janeiro e aí começaram as descobertas que, do ponto de vista natural, seduziram e encantaram o jovem naturalista, ainda que, do ponto de vista social tenham sido motivo de frustração, desencanto e, em alguns momentos, de completo horror.


Em seus registros no Rio, Darwin anota que “poucos dias depois de
nossa chegada, conheci um inglês que se preparava para visitar suas
propriedades, situadas a pouco mais de 100 milhas [160 km] da capital,
ao norte de Cabo Frio. Ele teve a gentileza de me convidar como companhia,
 o que aceitei com prazer”. A incursão começou em 8 de abril, formada por
uma equipe de sete pessoas. Darwin
conta que em meio a um calor intenso o silêncio da mata é completo,
quebrado apenas pelo vôo preguiçoso de borboletas.

A vista e as cores na passagem de Praia Grande [atual Niterói] absorve
toda a atenção de Darwin ao menos até o meio-dia, quando o grupo
pára para almoço em “Ithacaia”, aldeia cercada por choças ocupadas
por negros escravos. Com a lua cheia, que nasce cedo no céu, o grupo
decide prosseguir viagem para dormir na “Lagoa Maricá” e, no trajeto, passam
 por regiões escarpadas, entre elas uma meseta em torno de onde escravos
 formaram quilombos, a que Darwin se refere genericamente como refúgio.
Aí, reproduz um relato que diz ter ouvido de alguém. Um grupo de soldados
teria sido enviado para recuperar esses
fugitivos e todos se renderam, à exceção de uma mulher, já velha,
que se atira contra as rochas. Então, ele faz uma das observações
que revelam sua profunda repulsão à escravidão que
tem diante dos olhos: “Praticado por uma matrona romana esse ato
seria interpretado e difundido como amor à liberdade, mas da parte de
uma pobre negra, se limitaram a dizer que não passou de um gesto bruto”.
 Música da natureza Nas últimas horas de viagem a cavalo, Darwin relata
que “o caminho ficou cada vez mais difícil, porque atravessa uma terra
selvagem e pantanosa”.

O grupo viaja na região hoje conhecida como serra da Tiririca,
atravessando a área das atuais cidades de Maricá, Saquarema, Araruama,
São Pedro d’Aldeia, Cabo Frio, Casimiro de
Abreu/Barra de São João, Macaé, Conceição de Macabu, Rio Bonito
e Itaboraí. Insetos luminosos, provavelmente vaga-lumes, segundo
o relato, voam em torno do grupo de viajantes e o silêncio da
noite permite que se ouça o quase indistinto rugido longínquo do mar.
 Antes que o Sol nasça, no dia seguinte, a viagem recomeça, na seqüência
de um pouso no que Darwin classifica de uma “choça miserável”. O calor
crescente do dia que avança é amenizado
pela observação de uma diversidade de aves pescadoras, entre elas as
garças- reais, orquídeas e formações vegetais, compartilhada pelo
perfume da floresta. Ao menos até a parada
para almoço numa “venda” de construção franciscana, sem sequer
vidro nas janelas, o que chama a atenção de Darwin. O diálogo inicial
com o proprietário é amistoso, mas à medida que prossegue, Darwin se
 sente cada vez mais constrangido. – Poderia nos servir um pescado?
 – pergunta ele, e a resposta é: – Oh!, não senhor. – E sopa?
– Sinto muito senhor. – E pão? – Não temos, senhor.
 Generalizando para experiências posteriores, Darwin conta que, de
modo geral, podia dar-se por muito satisfeito se, ao final de uma espera
de duas horas pelo menos, fosse possível comer carne de galinha, arroz
e farinha. E em alguns casos era preciso
 ajudar a matar as galinhas a pedradas, antes da refeição. Famintos e
cansados, quando timidamente queriam saber se as refeições
demorariam, com freqüência ouviam como resposta: – A comida estará
pronta quando estiver. Em caso de queixa, contra a rispidez do
tratamento, a resposta que se ouvia era que continuassem a viagem.
Darwin registra com pesar que os donos de pousadas “são pouco
amáveis, quase sempre bruscos e suas próprias casas e seus parentes
com freqüência estão descuidados e sujos. As hospedarias não têm
facas, garfos ou colheres, o que o convence de que “seria difícil
encontrar na Inglaterra, um abrigo, por mais pobre que fosse,
tão desprovido das coisas elementares”. Em compensação, na localidade
que chama de “Campos Novos” conta que “fomos tratados
magnificamente” com oferta de arroz e aves, biscoitos, vinho e licores,
incluindo café à tarde e pescado no almoço, além de alimentação para
os cavalos por um preço insignificante. Mas aí a surpresa é outra.
Quando deram pela falta de uma bolsa e quiseram saber do
proprietário se tinha alguma notícia dela ouviram como resposta:
 – Como querem que eu saiba disso? – emendado com um
– por que não cuidam do que levam? – e uma sugestão:
– talvez tenha sido comida pelos cachorros.
 Desconforto com a Escravidão Próximo ao rio das Contas, Darwin
recolhe exemplares de conchas com moluscos de água doce e de água
salgada, ouvindo dos moradores ser freqüente a invasão de lagoas locais
pelas águas do mar. Daí o grupo afasta-se da costa e novamente mergulha
na floresta onde formigueiros cônicos, com quase quatro metros de altura,
sugerem pequenos vulcões e atraem a atenção de Darwin.
Ele se preocupa com os cavalos e se surpreende com as
picadas de morcegos hematófagos, sofridas pelos animais.
 Ao final de três dias de viagem o grupo chega à Fazenda Sossego,
propriedade de certo Manuel Figueiredo, parente de um dos viajantes,
conforme registra Darwin. Novamente a rusticidade da construção o
deixa desconfortável, mas a alimentação aí é farta e generosa, incluindo
a carne de caça. “Deixando de lado a idéia da escravidão”, registra Darwin
em seu diário, “tem alguma coisa deliciosa nesta vida patriarcal, tão
 absolutamente separada e independente do resto do mundo”. Ele se
diverte com a idéia de um pequeno canhão ser disparado para
anunciar a chegada de visitantes num ambiente tão isolado. Na fazenda,
Darwin se levanta antes de o Sol nascer para explorar o ambiente sem
ser incomodado, e conta que, logo em seguida, chega aos seus ouvidos
o canto dos escravos que iniciam o trabalho. Em locais como a
Fazenda Sossego, anota “os escravos são felizes em comparação
a outras propriedades e têm o sábado e domingo para trabalhar
para si próprios, assegurando as necessidades familiares”.
 De Sossego o grupo se dirige a uma propriedade situada junto ao rio
Macaé, limite do cultivo agrícola naquela direção e onde o proprietário
desconhece a área de suas terras. Darwin fica profundamente impressionado
com a fecundidade da região e imagina a quantidade de alimentos que
poderá produzir num futuro distante. A selva o fascina e as nuvens de
vapor d’água que sobem das matas o deixam extasiado, mas daí
também irá emergir uma imagem do terror. Na fazenda junto ao rio
Macaé Darwin relata um desencontro, que não detalha, e que por
pouco não dividiu pelo menos 30 famílias de escravos, levando filhos
e mulheres para
venda no mercado carioca, depois de uma convivência de anos. Diz que
interesses estritamente financeiros, e não
humanistas, evitaram essa cruel separação. Ele suspeita que o proprietário
da fazenda nem sequer possa ter se
dado conta da brutalidade de seu “ato infame”. O grupo cruzava um rio,
provavelmente, o rio Macaé, conduzido por um
negro, quando outra cena relacionada à escravidão chocou Darwin
profundamente.
O negro tinha alguma dificuldade de comunicação, o que fez com que
Darwin tentasse comunicar- se com ele por mímica e outros sinais.
Num desses movimentos, conta ele, suas mãos passaram próximo
ao rosto do homem, levando-o a acreditar que Darwin estava enraivecido
por alguma razão e iria golpeá-lo. O negro abaixou imediatamente as
mãos, semicerrou os olhos e dirigiu-lhe um olhar temeroso.
Darwin relata o profundo sentimento de surpresa, desconforto e vergonha
que se apoderara dele e que jamais iria esquecer. Sonho Tropical Darwin
e sua equipe permaneceram dois dias
na Fazenda Sossego, na viagem de retorno, quando ele se dedicou à
coleta de insetos, observações botânicas e conversas com o proprietário que
esculpia uma canoa num tronco único de 33 metros de
comprimento (110 pés). Em 19 de abril de 1832 o grupo deixa em
definitivo a Fazenda Sossego, retomando o caminho difícil da ida.
Nos campos arenosos que percorrem, Darwin diz que a pisada do
cavalo no solo arenoso produz o som de um “débil grito”. No terceiro
dia da viagem a rota é ligeiramente alterada em direção a uma
aldeia (Madre de Deus) onde passa uma das principais estradas do Brasil.
A via, no entanto, está em precárias condições e mal dá passagem a
carros de boi. Outra cena que chama a atenção de Darwin são as
inúmeras cruzes à beira da estrada, que, em vez de marcos de distância,
assinalam pontos de mortes por assassinato. Em 23 de abril ele está de
volta ao Rio de Janeiro. O retorno ao Rio marca uma nova fase de
êxtase com a natureza e coleta de espécimes animais e vegetais.
Nesse período Darwin ficará hospedado em uma casa à beira-mar (cottage)
em Botafogo. Sobre essas semanas diz que “é impossível sonhar
com algo mais delicioso que essa estada de algumas semanas num país tão
impressionante”. “Na Inglaterra”, continua Darwin “os interessados em
história natural têm vantagem no sentido de que sempre descobrem
alguma coisa que lhes chama a atenção, mas nesses climas tão férteis,
repletos de seres animados, para fazer uma caracterização, descobertas
novas são feitas a cada instante e são
tão numerosas que só
se pode avançar com dificuldade”. O relato que segue, está inteiramente
tomado por observações e descrições que chegam a detalhes mínimos.
O calor incomoda, mas as chuvas que caem densas e ruidosas compensam
todo o desconforto. O convite para uma caçada, feito por um padre
português, também é motivo para observações, descobertas e
extrapolações, como a habilidade de um garoto malvestido em
 particular, mas “dos brasileiros de forma geral” no uso da faca, da qual
nunca se separam. A casa no Rio de Janeiro está localizada na base do
Corcovado, de onde Darwin acompanha a formação de nuvens, especula
sobre a natureza rochosa da formação e relata a chuva densa que desaba
numa manhã com sonoridade que lhe era inteiramente desconhecida.
Darwin absorve a natureza local com paixão incontida retomando, entre
outros relatos, observações sobre insetos luminosos, freqüentes durante
a noite.Também as formigas, mas ainda mais as
aranhas, atraem seu interesse e o levam a explorar tanto regiões mais
próximas do Corcovado como a visitar o
Jardim Botânico, formado com a chegada da corte portuguesa, em 1808,
em busca de refúgio contra a invasão da
Península Ibérica por tropas napoleônicas.Em 5 de julho Darwin deixa
definitivamente o Rio de Janeiro e o Brasil rumo à
Patagônia e à passagem (atual Passagem de Drake) que o levará às
Galápagos e às observações que o conduzirão ao evolucionismo.
Ainda que a um enorme custo pessoal e ao receio desesperado de,
literalmente, implodir os valores de sua época, como se constata nas cartas
angustiadas que trocou com sua prima e futura esposa, Emma Wedgwood.
No final de 2008, o tetraneto de Darwin, Randal Keynes, conheceu a rota
percorrida pelo naturista.


CONCEITOS-CHAVE -

No início da viagem de quase cinco anos que fez pelo mundo e o
levou às ilhas
Galápagos, no Pacífico, Darwin visitou parte do litoral brasileiro,
especialmente
o Rio de Janeiro. - Encanto com a
natureza tropical manifestou-se já em Salvador, na Bahia, mas
aprofundou-se
no Rio, onde fez uma visita a fazendas no interior do estado. Contraponto
desconfortável foram observações sobre a escravidão. - Diversidade e
riqueza de observações fazem o relato de Darwin superar as notas de um
naturalista e abordar questões de natureza antropológica e de cultura geral.
 – Os editores

PARA CONHECER MAIS

 A origem das espécies. Charles R. Darwin. Ediouro, 2004. As cartas de
Charles Darwin – Uma seleta , 1825-1859. Editadas por Frederick Burkhardt.
 Editora Unesp, 1998. Os herdeiros de Darwin. Marcel Blanc.
Editora Página Aberta, 1994. O Bico do tentilhão –
Uma história da evolução no nosso tempo. Editora Rocco, 199
Sciam

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