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segunda-feira, 19 de abril de 2021

Murrow, Jornalismo: Entre a verdade e o poder

 

O mestre de cerimônia e diretor da CBS anuncia o homenageado que, detrás das cortinas, dá o último trago no cigarro, revisa seu discurso e é recebido no palco com aplausos de seus colegas de profissão e convidados. Ele começa: “Haverá alguém que isso não lhe fará bem. Ao final deste discurso alguém poderá acusar-me de sujar meu próprio ninho e a Associação pode ser acusada de dar abrigo a ideias heréticas e inclusive perigosas (…). 

É meu desejo e minha obrigação falar-lhes com franqueza sobre o que ocorre no rádio e na televisão. E se o que digo é conjetura eu sou o único responsável por tê-lo dito.” [Todas as citações foram traduzidas do filme citado, na versão em espanhol. Assim, pode ser que na versão em português, a tradução não esteja igual, já que vem direto da versão original, em inglês]. 

 Assim começa Edward R. Murrow (David Strathairn) seu discurso na festa de homenagem promovida pela rede de televisão CBS a ele mesmo. E assim começa também o filme Boa noite e boa sorte (2005), dirigido por George Clooney, que aborda a série de programas que o jornalista e apresentador de televisão dedicou para denunciar, desmascarar e esclarecer aos telespectadores e a opinião pública sobre as técnicas de investigação do senador Joseph McCarthy, naquilo que ficou conhecido como “macarthismo”. 

 O macarthismo foi um movimento de investigação anticomunista, de perseguição política e que infringiu os direitos individuais dos norte-americanos, principalmente após o período do pós-guerra. Esse “movimento” era liderado pelo dito senador e usava técnicas agressivas e de ameaças, perseguindo a todos que alguma vez chegaram a ter contato com algum tipo de “instituição” dita comunista. A esse movimento também chamam de “caça às bruxas”, especialmente contra atores e artistas em geral, que durante a Segunda Guerra apoiaram a união dos Estados Unidos com a então União Soviética, formando assim o “eixo Aliado”. 

Entre tais artistas perseguidos estava Charles Chaplin, devido à sua visão política mais à esquerda e, por isso, a comissão de investigação liderada por McCarthy o acusou de atividades “antiamericanas”. Tais investigações tinham a colaboração do FBI e, assim, exilaram Chaplin dos Estados Unidos em 1952. O auge do macarthismo, logo seus abusos aos direitos individuais, alcançou 1953 e Edward R. Murrow, um já notável jornalista e apresentador à época, resolveu confrontar e denunciar o poderoso senador com uma série de reportagens e, assim começou a era da televisão com um embate entre Jornalismo e Poder, na qual já em 1958, ano do discurso que iniciamos o texto, 

Murrow cobra que a televisão deve ser um instrumento de transformação e não somente um aparato cheio de cabos. Murrow, nesse momento trata do caráter de entretenimento que a TV começa a ganhar de maneira forte e que isola os cidadãos da realidade. Ele cobra a sua própria empregadora e a critica por não ser um instrumento clareador de ideias, com uma função social de formação e não somente de informação. “Nossa história será a que nós queiramos. E se haverá historiadores dentro de 50 ou 100 anos e se conservarem os cinescópios de uma semana das três redes, encontrarão gravadas em branco e preto e colorido provas de decadência, escapismo e isolamento da realidade do mundo que nos rodeia.” Boa noite e boa sorte traz a velha questão da vigilância que o ‘quarto poder’ deve exercer sobre os outros três. E a série de programas elaborados por eles vão defender o cidadão comum de uma espécie de CPI que investiga todo tipo de pessoa independente do seu status quo. O filme de Clooney chega até a ser saudosista e nos leva, jornalistas mais jovens, a sonhar com um era romântica da nossa profissão, na qual os ideais eram o que movia os profissionais. A verdade se não absoluta era, buscávamos que fosse. Além disso, vem o clichê da vida boêmia dos jornalistas. A máquina de escrever sobre a mesa, o cigarro no canto da boca. 

O que encanta em Boa noite e boa sorte é a luz ou a falta dela. O preto e o branco característico dos anos 1950. De jornalistas, repórteres e diretores muito bem trajados, alinhados. Gel no cabelo e aquela força, digamos poder, que a profissão carrega ou carregava. 

Um glamour que com as novas tecnologias talvez não exista. A realidade é que os filmes norte-americanos talvez abordem o jornalismo como a sociedade o enxerga naquele país. Uma instituição que carrega, ou deveria, a busca da verdade consigo e não uma profissão de seres onipotentes ou sensacionalistas como os personagens das novelas brasileiras são apresentados. 

Não tanto ao céu e nem tanto ao inferno. Nelson Traquina (ler aqui) já questionou e justificou “a perda do quarto poder” e, a imagem ou a ideia de exercer poder traiu muitos profissionais e meios de comunicação. Essa teoria estava contida no cerne da profissão e que nos “presenteou” como mandamento número 1, porque não cravado em uma pedra, o “dever de contar a verdade”. 

E a liberdade que nos foi concedida constitucionalmente não devia ser usada em nosso próprio proveito, mas como um direito do público em ser informado por diversos canais e pontos de vistas. E Boa noite e boa sorte nos devolve isso, durante cerca de 1h30 minutos de duração. Em uma das passagens, na série de programas dedicados contra o senador McCarthy, Edward R. Murrow vai afirmar que: “É necessário investigar antes que legislar, mas a linha entre investigar e perseguir é muito fina e o senador de Wisconsin a cruzou repetidamente. 

Não devemos confundir discrepância com deslealdade.” O que Murrow solicita ao senador e tenta expandir para a opinião pública é que, um país democrático deve ter a diversidade de opiniões sem que isso seja alvo de deslealdade. Murrow não defendia o comunista, somente exigia o direito dos cidadãos que o faziam em ter o direito de fazê-lo sem ser acusados de traição. Em plena a Guerra Fria, o jornalista da CBS defendia que os americanos maduros podiam discutir e conversar com os comunistas de qualquer parte do mundo, sem se contaminar e que isso deveria se manter no campo das ideias e não da coerção. 

 Edward R. Murrow talvez tenha aberto, na era digital, a via do jornalismo como combate ao poder político e anos depois teremos o maior embate entre essas duas forças, jornalismo e poder político, na qual a verdade da informação, a verificação e a liberdade de imprensa combateu e ‘derrotou’ o poder político, no caso Watergate.


Conteúdo: Observatório da Imprensa (observatoriodaimprensa.com.br)



                               PESQUISA: MAGNO MOREIRA

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