"O correspondente tem que acreditar que o que ele faz vale os riscos e esforços e é mais importante que todas as regras locais". Arnett afirma que o correspondente também tem que ser o que os americanos chamam de "não-ideológico" –não tomar partido nunca, diz ele, e deixar as informações entrarem na sua cabeça. A terceira atitude do correspondente, para Arnett, é manter-se informado, ler sempre e sobre todos os assuntos. "É preciso saber de tudo, e até ser diplomata de vez em quando."
O repórter guarda lembranças especiais de duas guerras: a do Vietnã, em que era correspondente da AP (Associated Press), e a do Golfo, quando ficou conhecido no mundo inteiro como correspondente da CNN (Cable News Network) –emissora de TV a cabo dos EUA especializada em notícias. Ele conta que a guerra do Vietnã foi difícil, porque a guerra era mal vista pelos americanos. "A guerra era considerada perdida, e os repórteres eram afetados". Arnett passou dez anos como correspondente na guerra do Vietnã. Ele e outros repórteres americanos corriam risco, diz ele, porque ficavam no campo de batalha, junto com as tropas americanas. "A Guerra do Golfo foi a mais espetacular". Ele lembra que os mísseis americanos caíam perto do hotel dos jornalistas em Bagdá.
O jornalista diz que a guerra do Golfo foi diferente de todas as outras, por dois motivos: o envolvimento de toda a comunidade internacional –o que não se verificava desde a Segunda Guerra– e a tecnologia utilizada na cobertura. A CNN tinha dez satélites em vários pontos do Iraque, conta o correspondente. Além disso, unidades móveis de jornalismo permitiam gerar notícias de vários lugares das batalhas. Quando a guerra terminou, Peter Arnett teve mais certeza de que ela fora diferente das outras: tornara-se conhecido no mundo inteiro, depois de 35 anos como correspondente de guerra. "É até bom, porque quando vou hoje à Bósnia todos já me conhecem.
A desvantagem é que sempre acham que eu sou louco. Eu acho que sou", afirma. Guerra do Golfo O dia em que a guerra do Golfo começou para o mundo –06 de janeiro de 1991– foi o dia em que Peter Arnett tomou a decisão que mudaria sua vida: ficar em Bagdá durante todo o combate.
Ele foi o único jornalista que permaneceu na cidade bombardeada, contrariando as ordens do presidente George Bush para que todos os jornalistas americanos saíssem do local. Ficou, com um cinegrafista "free-lancer" contratado em Bagdá e operando sozinho os equipamentos de geração de notícias. Conseguiu o que parecia impossível: entrevistar Sadam Hussein. "Fiquei porque sabia que ali haveria uma boa história, que o mundo inteiro ia querer saber", conta.
Para isso, Peter Arnett, que separou-se depois de um casamento de 20 anos, só tem uma receita: "O correspondente ou desiste do trabalho ou se divorcia".